domingo, novembro 25, 2007

Chegou o dia



Não tenho jeito nenhum para grandes discursos. Apraz-me apenas dizer adeus e obrigado a todos.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Prenda d'anos



Hoje completo trinta anos de existência.
Já levei um banho de água fria do nosso Núcleo Duro para aclarar as ideias, e fui chamado ao Director para me notificar que vou sair em liberdade no dia 25 de Novembro. Que melhor prenda poderia ter?

Mas estou assustado.

Um dia destes tive a visita do meu amigo Jorge – um ex-companheiro do Palacete que já saiu – que me colocou a par da situação aí por fora; vive-se em dificuldades permanentes e prevêem chuva e ventos fortes para esta semana. Os empregos escasseiam, o graveto é curto, e a motivação pessoal, por si só, pode não chegar para fazer face aos primeiros encontrões.
Também me fez saber que o País está pobre e preso. Pobre em recursos e em ideias. Preso a contratos dos mais endinheirados onde à mínima falha dum gajo que daqui sai está fodido e a tendência é uma recaída. Não daquela merda que faz rir, porque nunca estive para aí virado, mas sim da alteração climática do sistema. Das ondas de choque que irei encontrar.

Mas, como diz uma nossa leitora amiga, vou tentar “transformar a revolta em luta”. Tentar acertar o passo em novos caminhos e com outros companheiros. Tentar dar razão ao dito tão popular de que o crime não compensa. E pode acontecer que tudo não passe apenas dum susto às primeiras impressões.

"sei que não dá para mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar para mudar o final".


Grato pelo vídeo, Pearl.



Fiquem bem.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Reintegração



Ao contrário do que se possa pensar, uma prisão, em princípio, não é um hotel ou colónia de férias. Já uma vez referi que temos mais perigosidade por metro quadrado aqui dentro deste Palacete da que está para lá destes muros altos que nos cercam e nos isolam da comunidade certinha. No entanto, a violência e a criminalidade está em todo o lado e tende a alastrar cada vez mais. Venham de lá governantes, juízes, fazedores de opinião, dizerem-me o contrário.

O que me fode é que somos vistos como um todo; do tipo “…ai e tal, se o bacano fosse um gajo à maneira não estava lá dentro.”. Não é bem assim. Um dos erros na reabilitação de muita malta que aqui está, é precisamente a nossa Justiça Judicial que mistura alhos com bugalhos. Por exemplo, o meu crime não tem nada a ver com o “Senhor Televisão”. Nada tem a ver com os actos praticados um dia na Cova da Moura ou em Sacavém, e muito menos relacionado com rapto de crianças ou assaltos onde morrem pessoas. No entanto, grande parte dos casos que sei de cor, já estão lá fora.

Posso lixar-me por dizer estas merdas todas, mas sabemos que certos gajos que tratam destes assuntos (Ministérios, Assistências Sociais, Instituições de Reabilitação, e etc.) estão-se a cagar para o desenrolar de soluções da malta que ainda tem chances. É o “nine to five” duma ocupação bem remunerada, aliadas a uma burocracia arreliadora, e acabou.

Claro que não é minha intenção branquear os disparates que muita desta malta cometeu, e que merecem estar “dentro” os anos todos que os tribunais lhes aplicaram. Mas por outro lado, existem certos e determinados indivíduos que, não fosse um laivo de irresponsabilidade que pode acontecer ao mais pintado, numa sociedade cada vez mais desequilibrada, teriam hipóteses de uma reintegração adequada na sociedade caso se olhasse mais atenciosamente para o cadastro e o perfil de cada um. E tenho aqui vários companheiros que estão perfeitamente sensibilizados para refazerem a vida novamente.

Por isso, muitas vezes, duvidamos se não faz mais sentido ficarmos onde estamos. Não por medo de enfrentar o que quer que seja, mas por apenas constatar que a reintegração possa não resultar.
E depois lá vamos nós. Voltar às “origens da vida fácil”, já que os exemplos dos colarinhos brancos e engomados são suficientemente gritantes e apelativos. Leiam os jornais, e podem dizer-me se estarei enganado.

Estar preso é fodido, mas não entender, ou tentar esconder esta realidade, é bem pior.

Bom fim-de-semana!