Suicídio (1)
Sabemos todos quão complicado é falar sobre o suicídio. Quanto mais no dos presos de delito comum. Primeiro por respeito à memória deles. Segundo, o não avivar a dor (ou alívio) das famílias é mais uma. No entanto, e como se deve calcular, um gajo não se mata só por matar. Lá terá as suas razões. Mas até aqui fui eu a escrevinhar.
Agora vamos aos factos.
Parecendo idiota e irrelevante, é mais fácil entrar no mundo do crime do que numa prisão. Enquanto lá fora vigora a lei do mais esperto e do mais ágil e com mais sorte, aqui a bola bate na trave. Nem todos se habituam facilmente à disciplina presidiária, nem à companhia de autores de crimes que eles pensavam nem existir.
Num estudo realizado há tempos, o suicídio era considerada a segunda causa de morte nas prisões portuguesas. Por outro lado, Carlos Alberto Poiares (especialista em psicologia criminal) disse um dia, tal como o Hilário cantava, que: «Não nos podemos esquecer que não é só a liberdade que é retirada, mas também outros bens essenciais, como a vida afectiva e sexual. Adiantando ainda que:«o Plano Individual de Readaptação, presente na lei há mais de 20 anos, nunca foi posto em prática. Em Portugal as coisas não avançam. Ou por falta de dinheiro, ou por falta de vontade política. Neste caso é pelas duas coisas».
Virando o bico ao prego, António Pedro Dores (sociólogo no ISCTE), escreveu o seguinte sobre “o mundo da mentira” :
“Apoquentados com o que sabem passar-se nas prisões, talvez à procura de encontrar formas de evitar desmandos a partir dos seus postos de responsabilidade, deputados, ministros, chefes partidários, titulares de instituições várias, visitam prisões. São alturas em que quem está lá dentro esconde como se vive e mostra o melhor que tem, como mandam as regras da hospitalidade e do bom senso. Em particular quando alguém de estatuto social mais elevado, por alguns instantes, se digna preocupar com a sorte dos mais desfavorecidos. É isto tão verdade para os guardas e outros responsáveis prisionais, quanto o é para os próprios presos.”
Depois existem ainda a caça às bruxas, as rixas, os grupos rivais, o racismo, os negócios, etc..
Um tipo que não esteja fortalecido psicologicamente para lidar com tudo isto, só tem duas coisas a fazer: ou pira-se até ser apanhado novamente, ou pira-se de uma vez por todas.
Há quem defenda que nestes casos, o melhor é estar-se morto.
(continua…)
2 Comments:
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