quinta-feira, agosto 31, 2006

Testemunhos (3)



Por aqui, se vão quebrando barreiras e tabus. Soltam-se as palavras amarradas de quem esteve, e está, calado há muito tempo. E este espaço vai-se tornando um veículo para os testemunhos dos que por aqui pernoitam dias sem fim. Este é mais um grito surdo para se poder ouvir.


"Mesmo detido, vivo num país de facilidades. Quase tão igual ao do “sonho americano”.
Como recluso, sobrevivo com facilidades várias. Facilidades que utilizo como moeda de troca. Como alvará ou salvo-conduto nestes caminhos que se percorrem por estes corredores estreitos e vazios. Por estas celas frias e cinzentas.

Dão-me a facilidade de ler e de estudar.
Sendo um condenado, sobra-me a facilidade de aprender com quem me ajuda e me castiga.
Facilitam-me as artes e os engenhos, dos quais cantou Camões, e tenho a facilidade de perceber que não estarei sozinho entre tão poucos escravos e tanta tirania.

Facilitam-me as refeições a tempo e horas, e um descanso obrigatório que torna livre o pensamento no cavalgar sobre os prados da minha própria vida. Passada e futura.
Facilitam-me a vida, mas nunca a morte prematura que, por vezes, facilitaria menos dor e tormentos nas amarras de quem me facilita tanta coisa. Serei um pesado fardo a tanta facilidade, mas nunca saberei se é fácil viver com isso durante todo o tempo que nunca me restará.

Apenas me falta acreditar num deus que não exista.
Ou rezar a outro que me facilite a possibilidade de entender que não valeu a pena o ter vivido assim."

João Almerindo, o "à queima-roupa", condenado a pena máxima.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

zé prisas,

gostava de falar consigo. mande-me um mail: rgustavo@expresso.pt

4:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ora bem, li hoje uma notícia de que um tal Germano, responsável pela Oficina de S. José onde estavam os putos que deram cabo d@ Gis, deu uma facada no pescoço e matou-se. Foi descoberto pela filha.

Queria juntar na minha tristeza e respeito a esperança de que o gesto do homem, cujas razões não quero conhecer, seja um raio de luz algures.

Nesse espaço 10-dimensional como dizem alguns físicos (11-D para outros) e também os budistas, faço votos de que haja lugar para uma serena e alegre paz, onde @ Gis possa acolher o Germano, sem querer ser intrometido.

Quanto aos putos: nada de suicídios pá!, já chega de mortes, toca é de fazer coisas que sejam boas para todos, ou pelo menos a caminho disso.

py

7:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Epá, Zé Prisas, o Almerindo fez-me lembrar um fado do Tony de Matos: o Destino Marca a Hora.

Mas já estamos noutros tempos e toca a levantar a moral à rapaziada.

De qualquer forma, é um grito que ouvi muito bem.

saddam, o dos fados

11:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns! Pelo blog em si, pelos posts e pela empatia que consegue criar com quem lê o que o Zé escreve!

2:34 da tarde  
Blogger Zé "Prisas" Amaral said...

Gustavo, pelo remetente expresso, não me parece boa ideia "falar comigo" pela primeira ideia que me veio à cabeça.
Precisamos de nos reabilitar, mas não queremos publicidade.
No entanto, por uma questão educacional que sempre recebi, já enviei o mail. Sempre fico a saber o que pretende.

Pois é Py, mas como é comum neste país ninguém quererá saber os motivos e nem sequer haverá algum inquérito.
Naturalmente, é mais importante o "Caso Mateus", o ponto final do Independente ou até a resultado de logo entre Dinamarca-Portugal.
Quanto às tentativas de haver mortes entre nós, vira essa boca p'ra lá. Fazemos tudo para que nada disso aconteça.

Fadista amigo, gostávamos de ouvir esse fado no seu blogue.
E não se preocupe, a moral tem que estar sempre elevada nestas hostes. Mesmo que sejamos um exército votado muitas vezes ao ostracismo.

Raquel, agradecidos pelas suas palavras. Demonstram que podemos ser vistos duma forma não monstruosa.


Grato a todos os que por aqui nos "falam".

8:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

não era pra vocês, era mesmo para os putos que lixaram @ Gis, porque há-de haver alguns que vão ficar muito doridos de sentimentos de culpa depois, ou parecido, depois, ou mesmo já.

Claro que de vocês espero que estejamos cá todos, entre aqui ali e acolá, para o Euro 2008, que temos que comer a França senão é uma vergonha! Não gosto nada de traumatismos históricos. Certo, que o golo do cruzamento Figo*NGomes foi belo e tratou simbolicamente do assunto, valeu por 4.

Mas ainda falta o realmente, ou então não sei, se calhar já não falta nada, mas seja como for acho que devemos fazer por vencer o Euro 2008.

Quanto ao resto: faço votos que Portugal saia rico desta história da guerra do Médio Oriente, ajudando à paz, e liderando uma parte substancial do Mercado do Carbono que vem aí, ou melhor já aí está.

Viriam mais oportunidades para todos.
Vamos a ver.

Tive cá durante uns dias em casa um ex-presidiário que se livrou das duras faz 8 anos, portanto não me venham dizer que é impossível porque não é.

py

9:42 da tarde  

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