domingo, agosto 13, 2006

Adeus tristeza



Neste local em que nos encontramos, e onde ainda prevalece o direito de admissão, qualquer domingo acorda cedo.
Não temos galo, mas o dever das obrigações atribuídas faz-nos despertar. Para além da higiene pessoal, há que manter asseado o palacete porque aos domingos é dia de visitas especiais.
De Salvaterra, Lagos, Trancoso ou até de Freixo de Espada à Cinta, vêm “peregrinos” aos molhos de cansativa viagem. O objectivo, claro, é estar um pouco com a sua “dor de cabeça”. O seu menino que pensavam d’oiro.

Recatado a um canto me figuro, tal mestre de cerimónia, onde por vezes me atraiçoa um nó apertado na garganta, que nem sequer é da gravata, ao presenciar quadros de família que ouso aqui e agora divulgar. Não é fácil ficar insensível à dor de dois velhotes, entre vários outros pais, que marcam presença todos os domingos vindos de longe. Gente pobre, mas de alma nobre, que apenas o seu olhar perdido os trai quando olhamos um pouco mais para eles. E ao vê-los, por vezes dá-me ganas de ir dar dois estalos àquele filho-da-puta que está preso e atirar-lhe um “Porque é que fizeste aquela merda?”.

Parecendo paradoxal, um domingo vivido nestas paredes que nos cercam, é um misto de festa e de tristeza. Um dia que marca a diferença entre a apoteose de perceber que se está preso e a outra: a angústia tardia do arrependimento. Por muitas e sábias palavras que nos dirija o padre F. que acompanha os mais traumatizados, o dia seguinte é de reflexão e silêncio.
Ainda pesam na consciência os tumultos e destinos destas vidas que se cruzam. Inexplicavelmente sem sentido.

Mas é só hoje e amanhã. Depois, tudo voltará à confrangedora normalidade.

Para acabar à TheOldMan, o foisimbora, damos música a esta vida que não se deseja aos que nos visitam caiam nela.
O "Hotel" tá cheio!


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