A controvérsia das seringas (3)
A controvérsia das seringas (1)
A controvérsia das seringas (2)
Não está fácil o consenso sobre a “Operação Seringada”.
Se por um lado, António Costa e Correia de Campos garantem a “troca personalizada aos reclusos através do fornecimento por pessoal dos serviços de saúde”, por outro, o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional contesta o novo projecto “alegando questões de segurança”. Mas no meio desta embrulhada toda alguém se está a esquecer, aliás como sempre, de uma terceira força: nós, os mais interessados, e directamente ligados à coisa.
É fácil constatar que perto do milhar de residentes, actualmente a repensar e a refazer a sua própria vida neste Palacete, nem todos são toxicodependentes e ponto final. Além disso, dos que são, nem todos se injectam. O Programa de Abstinência em “terapia colectiva” fez progressos e, mesmo quando alguma recaída tem lugar, a “chinesa” (ilícita) ou a metadona (legalizada) minimizam maiores estragos.
Todos sabemos que é impossível desmentir que existe droga nas celas. E quando apanhado, qualquer recluso sabe que a sanção é severa. Mas ainda há quem arrisque a penitência: os abrangidos pela Lei n.º 36/96. Aqueles que a esperança de vida anda longe dos valores normais. Daí, alguns de nós pensar que esta experiência piloto possa ser um incentivo a mais consumo e abranger pela negativa, como em qualquer sociedade onde vigore a lei do mais forte, maior número de utilizadores.
Imagine-se o número de gajos influenciáveis, o número de dependentes dum “grupo”, o número de tipos que aceitam qualquer “fuga” para fugir à realidade da puta da vida de uma prisão. Quantos é que dá? Pois…
E não adianta nada interpor providências cautelares visto que os tribunais cível e administrativo “disseram-se sem competência para apreciar a acção”.
No outro lado da barricada está a Igreja, mesmo que veladamente, Rui Sá Gomes (Director-Geral dos Serviços Prisionais), e alguns professores de Direito que entendem esta iniciativa como medida terapêutica. Desde os mais variados tipos de argumentos, o que colhe maior ressonância seria a redução de riscos e danos na propagação das doenças infecto-contagiosas. Parece-me justa tal preocupação. E, como se sabe, apenas em dois estabelecimentos prisionais – Lisboa e Paços de Ferreira – vai ser accionada esta experiência de forma tentada porque serão porventura aqueles que dispõem de cuidados de saúde melhor equipados se alguma coisa correr mal.
Até lá - Fevereiro de 2007 - o debate torna-se imperativo e urgente.
11 Comments:
... não percebo o suficiente do assunto para ter uma opinião abalizada, mas enfim, para quem tem a desdita de se andar a injectar acho que sempre é melhor com alguma higiene e cuidado do que à fuçanga. Desejava-lhes é que tivessem o mesmo arrepio do que eu quando tiro análises, a olhar para o lado, mas pronto, também percebo a fuga à realidade quando ela é por demais penosa, embora não resolva nada, antes agrave.
Mas a razão deste meu comentário é que ninguém comenta e vinha aqui dar um abraço.
py
Olá Zé.
tenho lido e ouvido falar sobre este assunto das "seringas nos estabelecimentos prisionais" mas ainda não consigo ter uma opinião formada sobre o assunto.
Vou esperar por ver algum debate e assim ver esclarecidas algumas dúvidas (muitas) que tenho sobre o assunto.
Um abraço
Como este assunto, Zé, existem outros que mereceriam tratamento especial. A imobilidade da população reclusa, as quebras na segurança, a despesa com o mecanismo e, acima de todos, quais os esforços que se têm feito para a reintegração que, também me parece, esta iniciativa pode fazer atrasar.
De qualquer das formas, já era tempo de o Estado se pronunciar sobre o assunto sem ser como um dado adquirido. Sempre gostaria de saber a opinião dos criminogistas deste país.
saddam, o dos fados
Caro Zé:
foi importante recolher o teu ponto de vista, dado estares mais perto dessa realidade de que apenas vamos tendo ecos indirectos.
Ainda não tenho uma posição muito definida sobre a matéria, reconhecendo que há aspectos positivos e negativos nessa medida.
Mas para que lado penderá, final mente a balança?
Duas ou três questões:
1 - A diferença entre o chuto e a chinesa é uma questão de método, ou mesmo de psicologia. Mas uns são tão toxicodependentes quanto os outros, ou não?
2 - O que é que acontece com mais frequência numa prisão: um indivíduo que opta por fumar só por não ter acesso a seringas ou outro que acaba por partilhar uma 'máquina' pela mesma razão?
3 - E o que dizem os utilizadores das ditas seringas?
4 - O que é a lei 36/96?
Como se deve calcular, há perguntas com várias respostas, mcp. No entanto, estas respondo por mim.
1 - É uma tentativa de retrocedimento ao consumo mais gravoso. Tal como nos casos de alcoolémia: um gajo deixa de beber wiskie e passa a enjorcar vinho tinto.
2 - Os que fumam continuam a fumar. Os xavalos que estão agarrados têm acompanhamento médico. Claro que existem casos que o sistema não consegue detectar. Logo, não se consegue saber quantos usam a mesma máquina.
3 - "Estamos fodidos, meu!"
4 - Resumidamente, é um direito adquirido aos doentes em fase terminal que lhes permite ir bater a bota em casa. Ou na melhor das hipóteses, cumprir a pena em prisão domiciliária.
Amigo Peciscas, esta balança tem vários pratos e muitos fiéis de aferição. Alguns até, de aflição. (rs)
Grilimha, Py e Saddam: obrigado por terem vindo.
A malta envia um abraço a todos.
Sem querer ser cínica:
Se os potenciais utilizadores do sistema de troca de seringas não mostram intenção de se servir dele (e ninguém os pode obrigar), acaba por ficar tudo como está agora...
Agora mais a sério:
1 - As chinesas tornaram-se populares também por terem a vantagem de um fumador não correr o risco de morrer por overdose (cai para o lado muito antes...), mas principalmente por evitarem o algumas doenças contagiosas. Agora, também já vi gente a morrer de cancro de pulmão provocado pelo uso do estanho, só o tempo poderá dizer se vão ser muitos. Eu não estou a defender o chuto, estou só a tentar demonstrar que é um erro considerar à partida que um fumador é um toxicodependente 'mais leve'. Mas isto é outra história.
2 - O argumento da segurança não me convence inteiramente. Se os consumidores de injectáveis aderirem, não haverá mais seringas não contaminadas a circular? Ou teme-se que possa haver não consumidores a servirem-se das seringas como arma?
3 - Fala-se muito da heroína. Mas o que eu vejo, cá por fora, é que o que anda a causar mais estragos é a coca. Esse fenómeno não é significativo aí por dentro?
3 - Se houver greve de guardas prisionais acontece o quê? Fica tudo fechado nas celas? Há serviços mínimos? Há refeições?
errata ao comentário anterior:
onde se lê «evitarem o algumas», leia-se «evitarem algumas»;
onde se lê «3 - Se houver(...)», leia-se «4 - Se houver».
É um assunto que nunca consegui perceber bem. É muito complicado.
Um abraço
caro PRISAS sei o que dizes e tem toda a razao alias depois de saber que recusas muitas entrevistas com jornalistas mais te fici a admirar, sei quem es e sei que es uma pessoa discreta bastante a te fi-te isolado no sitio onde vives e uma pessoa que vive na mesma ala que tu de nome mao de morteiro diz que es sempre assim e que muitos tem aprendido contigo, diz tambem que es um autentico professor para eles ate de denominao o catedra. eu so tenho a desejar-te sorte e espero que com o novo cpp tu possas sair em liberdade brevemente.ate mais grande prof prisas
por isso força continua assim e nao te esqueças de dar um abraço ao mao de morteiro
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