Testemunhos (8)
(Uma arreliadora lesão numa das mãos travou o processo de postagens no blogue e a feitura do Jornal de parede que editamos todos os meses. Já quase refeito, voltamos à normalidade com mais um testemunho passado por baixo da porta da cela em que medito.)
Medo
O medo é o pior inimigo da gente.
Ter medo é fracasso. Receio de ir em frente, de ganhar coisas, meu irmão. Medo é ameaça constante, pior que uma faca apontada nas goelas ou revólver encostado nos neurónios. Todos nós, detentos, sabemos isso na boa.
Como também sabem, os doentes terminais com câncer, os filho-da-puta no Corredor da Morte lá nos States, os infectados com HIV e a galera que escreve nos blogues. O medo não pode virar aliado, camarada. Tem que enfrentar, hostilizar e matar. Na hora. E quanto mais cedo o galo cantar, melhor.
Eu e o Chefia tivemos um papo sobre isso. E numa de análise circunstancial bastante proveitosa deu p’ra verificar de seguida que topava minha jogada, cara. Tão claro como jogo do bicho: a insegurança atrai essa ansiedade medonha de não se sentir seguro. Não fica assim não. A melhor arma p’ra combater essa insegurança é eliminar preocupação, essa cobra venenosa, e alhear o temor de se fazer respeitar.
Se você tiver valor, meu irmão, o respeito que tiver pelos outros cairá em si dobrando, tá entendendo? É isso aí! Medo é pior que a dor. Dor entra e sai. Medo se não sacudir, fica p’ra sempre.
Na minha cama deito eu. Na tua deita quem você quiser. Mas se medo virar esporte, nunca vai bater recorde.
"Zé Pequeno", familiar de uma das vítimas em Carandirú (SP-1992) condenado a dois anos e meio por tráfego de estupefacientes
Medo
O medo é o pior inimigo da gente.
Ter medo é fracasso. Receio de ir em frente, de ganhar coisas, meu irmão. Medo é ameaça constante, pior que uma faca apontada nas goelas ou revólver encostado nos neurónios. Todos nós, detentos, sabemos isso na boa.
Como também sabem, os doentes terminais com câncer, os filho-da-puta no Corredor da Morte lá nos States, os infectados com HIV e a galera que escreve nos blogues. O medo não pode virar aliado, camarada. Tem que enfrentar, hostilizar e matar. Na hora. E quanto mais cedo o galo cantar, melhor.
Eu e o Chefia tivemos um papo sobre isso. E numa de análise circunstancial bastante proveitosa deu p’ra verificar de seguida que topava minha jogada, cara. Tão claro como jogo do bicho: a insegurança atrai essa ansiedade medonha de não se sentir seguro. Não fica assim não. A melhor arma p’ra combater essa insegurança é eliminar preocupação, essa cobra venenosa, e alhear o temor de se fazer respeitar.
Se você tiver valor, meu irmão, o respeito que tiver pelos outros cairá em si dobrando, tá entendendo? É isso aí! Medo é pior que a dor. Dor entra e sai. Medo se não sacudir, fica p’ra sempre.
Na minha cama deito eu. Na tua deita quem você quiser. Mas se medo virar esporte, nunca vai bater recorde.
"Zé Pequeno", familiar de uma das vítimas em Carandirú (SP-1992) condenado a dois anos e meio por tráfego de estupefacientes
2 Comments:
O medo torna-se preocupante qaundo nos paraliza, o medo também é uma forma de consciência à semelhança do vizinho que a quem recorremos para pedir a salsa, creio que o medo me deixou de prejudicar quando um dia resolvi entendê-lo assim, ele faz parte da nossa morada, e como tudo que assim é e está em nós, é preciso aprender a viver com! Ter medo é humano quando o medo é humano!
Até sempre
... e sobretudo parece que é importante não ter medo do próprio medo, como disse aquele presidente americano, porque aí é que ele irrompe mesmo.
votos de bons tempos, para todos
py
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