Ó da guarda
Tal como todas as profissões de risco, ser-se Guarda Prisional não é pêra doce.
Por muito esforço e preparação que tenham, lidar com alguns dos camaradas desta Casa pode fazer os nervos em franja a qualquer um. E em caso conflituoso, as coisas devem passar-se da mesma forma em muita boa casa de família.
Não é que da profissão possamos ter um carinho especial. O estarmos em campos opostos já é um entrave. Todavia, é-me permitido que aqui deixe uma palavra de compreensão para aqueles que há mais primaveras nos acompanham dia e noite.
Quer se queira ou não, ganha-se empatia com os que são mais simpáticos, mais atenciosos e mais justos. Uma espécie de Síndroma de Estocolmo ao contrário.
Depois existe um contacto muito perto que nos permite ver se a disposição de ontem já não será a mesma de hoje. Isso acontece a todos, e preocupamo-nos. São pessoas com os mesmos problemas e/ou alegrias como qualquer mortal. Riem, choram, gritam, e sofrem com as cores do clube que escolheram. Constituíram família, têm filhos, carro em prestações suaves, casa p’ra pagar com um ordenado que não me parece famoso, e as merdices do costume que todos devem conhecer. Talvez por estas e pelo outro, tivéssemos escolhido o que trouxe para aqui substancial parte dos inquilinos (rs).
Como também será verdade que não se facilita muito o seu desempenho. Para alguém que já tenha tido de perto alguma experiência de como se vive numa prisão, perceberá o que aqui transcrevo. É normal em qualquer reclusão. Daí, termos reuniões para encontrar um ponto de equilíbrio entre todos, e que a vida diária que aqui se vive, quer por uns quer por outros, seja a melhor possível.
Daí que, da minha parte, veja um Guarda Prisional como qualquer vizinho que mereça respeito. Que conviva em tratamento amistoso. Que tenha em atenção as pequeninas coisas que são parte desta amizade quase obrigatória. Sempre em reciprocidade.
Outros, porventura, não poderão dizer o mesmo. Mas eu digo.
1 Comments:
É o dia acabou por ser perfeito, com este post teu, pois o silêncio neste caso perturba-me tanto como o barulho ensurdecedor de qualquer fonte quando o que eu desejo é silêncio e paz de espirito se é que alguma vez a consigo ter.
Espero que continues a receber bilhetes de companheiros do palacete e os publiques, pois há gritos que merecem ser ouvidos acerca da injustiça da justiça que por vezes confunde as coisas de tal maneira fazendo com que o comum dos mortais fique sem saber diferenciar o significado do justo e do injusto.
Um abraço e regozija-te pois falta menos um dia.
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