terça-feira, outubro 03, 2006

Densidade populacional



Como em quase todos os presídios, o nosso Palacete também se encontra em estado de superlotação.
Um dado adquirido, que ao contrário do que dizem as estatísticas da criminalidade, as minorias étnicas e outros forasteiros que tentam a sorte em Portugal (a gente chama-lhes outros nomes), acabam por romper com os números que aí fora se conhecem.

Desde ciganos, ucranianos, africanos e o diabo a sete, todos nós tentamos ganhar respeito e lugar num espaço cada vez a ficar mais pequeno. O nosso Director sabe disso e o ministro também.
Por muito que se tente esconder a verdade matemática da situação, a densidade populacional nas prisões aumenta a cada dia que passa. Basta ler as páginas que tratam do assunto no Correio da Manhã, no 24 Horas ou n’O Crime, para se poder constatar aquilo que digo.

Depois, existem problemas variados, e graves, que não se abordam por temor ou tabu. Lendo as notícias diárias, damos conta de que o mau tempo, um desastre aéreo, as eleições brasileiras ou a derrota de um dos “grandes” do futebol português, tem mais encanto. A sucessão do novo Procurador-Geral da República também, tal como o lançamente do livro "Direito ao Assunto" do anterior que não deixa saudades. Esquecem rapidamente o problema das seringas, das salas de chuto e, mais importante ainda, das causas que originam o aparecimento de novos delinquentes.
Nós, aqui dentro fechados, percebemos a ocasionalidade mediática. Mas não esqueçam esta realidade que afecta quase tudo e quase todos.

Permito-me saber que a causa primeira poderá ser a inadaptação – e/ou a falta de apoio e infra-estruturas para os novos braços da força laboral dos nossos dias – que na falta de meios de subsistência diária, incute o vício do desenrascanço, tão português, que esta malta adopta mais facilmente: o ir roubar p’rá estrada.

Para além da Saúde, do Emprego e da Educação, que todos nós sabemos andar pelas ruas da amargura, também se sabe que o sistema prisional e penal vai sofrer alterações. Boas ou más, é sempre uma incógnita. Mas será legítimo pensar que as soluções adiantadas quando o tema vem para a rua, não sejam esquecidas nas gavetas das secretárias ministeriais que ficam anos inteiros por abrir.

Apenas por uma única e exclusiva razão; nenhum de nós gosta de estar cá dentro!

3 Comments:

Blogger Caucau said...

Enquanto estudante tive oportunidade de visitar 3 E.P.'s - Porto (Custóias), stª Cruz do Bispo e Paços de Ferreira, aí, a tão falada sobrelotação das prisões assumiu outro sentido para mim. A privação da liberdade, nessas condições, torna-se também humilhação consentida e um atentado à dignidade humana, igual a tantos outros a que diariamente assisto.

10:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nunca serei a pessoa mais indicada para dissertar sobre o assunto. Mas sei do que falas quando apontas estas questões.

Por vezes, olhamos para o lado e fazemos como quase toda a gente na resposta que se dá às pessoas com problemas idênticos: "Tenha paciência!"

É a puta da vida, Zé. Não só por aí.

saddam, o dos fados

10:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ontem estive com um amigo meu, que tinha encontrado no dia antes um amigo dele, brasuca, que tinha saído "daí" há pouco tempo, a pena era 5 anos mas foi comutada para dois, ou coisa parecida, se ele se portar bem.

Então, disse-me o meu amigo, que entretanto lhe arranjou emprego, o outro andava encantado com tudo, achava tudo bonito e simpático, etc.

Vai ser assim, Zé, para muitos de vós, quando saírem.

py

11:39 da tarde  

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