sábado, dezembro 02, 2006

Más companhias



"...
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco"

Mário Cesariny


Diz a lei que qualquer acusado é inocente até prova em contrário. Mas existe uma atenuante social mais importante que iliba de forma categórica qualquer certeza de que um gajo é mesmo bandido por natureza: as más companhias.
Segundo os índices dos mais recentes estudos sobre a criminalidade portuguesa, a maior parte dos arguidos que vão a julgamento declaram-se inocentes à partida. Mais. Alegam influências exteriores que não puderam, ou não souberam, evitar. As tais más companhias. Porém, uma coisa é certa: eu, por exemplo, sou culpado mas rejeito que tenha exercido qualquer influência nos tipos que aqui vim encontrar e que nem sequer conhecia. Ou mesmo a outros que conheço mas que nem sequer os vão conseguir prender.

Por outro lado, os defensores nem alguns juízes não se tornam inocentes. Todo e qualquer processo arrastam consigo as teias da lei. As segundas leituras e outras tantas interpretações. Tudo se submete a um jogo com players desconhecidos onde algumas regras pedagógicas e a verdadeira justiça se arredam da sua essência. E no caso real, é gritante a constatação da anormalidade na lei e que passo a expor:

Em 2004, um puto que vamos chamar de Jorge, foi agarrado com droga nos bolsos. Como é da praxe, alegou que a dita era de consumo próprio para evitar ser confrontado como joguete nas mãos daqueles que os utilizam como dealers. Claro que o puto tinha comissão naquilo que vendia e creio que a culpa era evidente. Mas a injustiça começa dois anos depois, precisamente neste mês, onde o chavalo é chamado a depor sobre os trâmites que aquela rusga ditou. Demoradamente e fora d’horas como é comum nos tribunais portugueses.

É que o Jorge, agora com a vida organizada e estabilizada desde aquele primeiro susto – trabalha diariamente na construção civil e nunca mais se meteu na merda – está sujeito a vir passar com os costados todos, se se provar o delito, uns meses valentes nas nossas más companhias. Tudo isto após dois anos e pico depois. Será justo?

1 Comments:

Blogger AB said...

lamento confessar q já há mto tempo deixei de acreditar q tribunais, juizes e advogados tenham o objectivo de "fazer justiça"...

4:53 da tarde  

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