terça-feira, abril 10, 2007

“Todos somos iguais, mas uns são mais iguais do que outros.”
George Orwell, “1984”

Como se calcula, numa sociedade frágil e em constante mutação, os problemas económicos acumulam-se. A portuguesa não foge a essa realidade e os resultados podem explicar-se por si quando se pretende falar em gastos e consumos como bandeira deste governo que (n/v)os rege.
Quando se está isolado, dizem os entendidos, pensa-se melhor. E pensando isoladamente na notícia que corre na imprensa escrita sobre quanto custamos, até a pele das zonas mais pudicas ( quase ia escrevendo a dos colhões) se me arrepiam. A sério.
Chegaram todos a uma brilhante conclusão: valemos quarenta e seis euros/dia.
Ou melhor, não valemos. Custamos.

Quantos portugueses livres estão de carteira limpa para gastar esse dinheiro?
Segundo estatísticas que não li mas sei que possam existir, quantos portugueses pagam dos seus impostos a nossa manutenção? Quantos estarão de acordo que estamos aqui sem fazer a ponta dum corno e a usufruir do que aí fora muitos não conseguem ter?
Quarenta e seis euros/dia equivale ao gasto numa estância em Vilamoura em época alta. Equivale ao consumo duma vida rica em Cabo Verde ou São Tomé. Ou no Brasil, inclusive.
Quantos trabalhadores neste país, fazendo contas ao dinheiro antigo, ganham por dia esse valor?

Tendo como memória que o Estádio Nacional foi construído por reclusos de Caxias, ainda eu não era nascido e nem pensava vir aqui ter, fico fodido só de pensar que dispensam a força braçal e intelectual de alguns de nós.
Já uma vez referi que nos podiam aproveitar como suplemento nas melhorias que o licenciado Sócrates propõe.

Exemplos?
Estamos habilitados na limpeza das matas e das carteiras. No auxílio às populações em caso de catástrofe e nas riquezas em posse de quem não as sabe utilizar. Na vigilância das costas marítimas por onde entra um futuro que dá lucro. No assalto e prevenção às farmácias e outros sítios comunitários, apoiados pelas autoridades competentes, que todos os dias sabemos serem fraude. Imensos serviços que podemos recompensar na falta dos meios que diariamente são solicitados.


Claro que todo este processo tem um custo: a disponibilidade de nos reabilitarmos por todos os meios que nos possam proporcionar e reduzirmos o gasto dos filhos da puta daqueles nove contos e seiscentos que custam a toda a gente.
Apenas pretendemos que se transformem. Não em gasto, mas no possível investimento que podem fazer de nós, cidadãos indefinidos, que pretendem ver o país crescer.

Peço desculpa pelo sarcástico desabafo , mas hoje tinha que ser.
Ponham-nos a trabalhar para que possamos acreditar que temos uma hipótese de sermos iguais aos outros. Mesmo que outros sejam mais iguais que nós.

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

'Estamos habilitados na limpeza das matas e das carteiras. No auxílio às populações em caso de catástrofe e nas riquezas em posse de quem não as sabe utilizar.'

ah compyncha és um porreirão! Vamos fazer por isso, espera lá que ue hoje estou com dor de cornos mas vou pensar nisso.

2:53 da tarde  
Blogger eduardo said...

Nunca me importarei pela parte que me toca, Zé. Neste país onde se gasta dinheiro em coisas que não levam a lado nenhum, gostaria que as tuas hipóteses fossem uma realidade.
Mais euro ou menos euro que se lixe. Já estamos habituados.
Não estou habituado é com a honestidade com que escreves estas coisas que, afinal, dizem respeito a todos, nos transfira para mais uma visão que merece ser analisada.

Por mim, já foi, lembras-te?
Os sacanas dos tipos que tratam disso, é que parece que não.

4:21 da tarde  
Blogger absorbent said...

ze, tb nao percebo pq nao...
ha vontade, capacidade e necessidade. so falta um bocado de inteligencia em quem manda nisto.

mas se calhar isso é esperar demasiado...

4:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Zé apesar de ser um noviço nesta coisa da net, e ter praticamente a mesma idade que tu, acho que a tua realidade apesar de diferente da nossa que não nos encontramos encarcerados dentro de quatro paredes, te permite sonhar e lutar por uma melhoria da sociedade. Concordo com a opinião que o recluso não tem de ser necessáriamente um "animal" que tem de ser mantido a todo o custo atrás das grades (apesar de existir uma minoria que sim!), são pessoas, seres humanos com o mesmo tipo de necessidades que os restantes! Porque não permitir a essas pessoas mostrarem aquilo que podem fazem em prol da sociedade e delas mesmas?
A meu ver, muitos dos reclusos foram pessoas a que nunca foram dadas as verdadeiras oportunidades desta vida, sempre foram catalogados por terem crescido nos ditos Bairros Degradados ou porque o nível de vida e de conhecimento não lhes permitia chegar onde os outros chegam! Ou seja foram condicionados desde a nascença acabando por se tornarem o produto que a sociedade idealizou neles....
Peço para que as Autoridades deste dito País se esforcem para começar a integrar os reclusos desde o momento em que se encontram nos Estabelecimentos Prisionais nestas pequenas grandes façanhas de que tu dás exemplo, e por outro lado facilitar o começo de uma empatia e aceitação por parte das comunidades, Forças de segurança e outras corporações com quem irão trabalhar!

6:01 da tarde  
Blogger peciscas said...

Hoje estás particularmente amargo, e com razão.Quem manda nestas coisas, diz muitas vezes o que é preciso fazer.
Mas, quando está em condições de fazer, assobia para o lado e deixa tudo na mesma...

6:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Entendi-te...

saddam, o dos fados

10:53 da tarde  
Blogger sem-comentarios said...

George Orwell disse tudo e a tua revolta, é igual a todos nós, que vivemos neste país.

Aproveitei e fiz "publicidade" ao teu blogue.

Adorei passar por aqui :=)*

3:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olhe, tive conhecimento do seu blogue através do "Sem Discussão" um outro blogue que visito todos os dias. Relativamente ao seu poste tenho isto a dizer: a verdade precisa ser dita e você não tem papas na língua, gostei de ler.

12:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ora aí está uma ideia corajosa!
Espero que consiga de facto, o que pretende!
Ser útil é a coisa mais importante da vida.
Cumprimentos.

11:01 da manhã  

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