Como nasce um recluso
Não nasce. Transforma-se em.
As voltas que a vida leva e trás, na formação duma pessoa, pode definir o seu futuro. Os factores de desequilíbrios sociais riscam e rasgam as regras. Ao constatar esse facto não estarei a inventar coisa nenhuma. Está nos books da universidade da Vida, e tanto ricos como pobres podem lixar-se a qualquer altura. Depende sempre de circunstâncias estranhas que acontecem aos melhores. E vários exemplos actuais demonstram que ninguém estará imune que um dia aqui venha parar.
Socialmente falando, a malta com menos recursos de engenharia intelectual está mais fodida. Toda a gente devia conhecer que a pobreza e a ignorância são factores preponderantes no insucesso de qualquer um. Estes tipos que convivem comigo há vários anos sabem disso, e tentamos precaver-nos para que num futuro próximo possamos agarrar qualquer oportunidade que nos leve a mudar de rumo.
Porém, numa população de mais de treze mil residentes nos estabelecimentos prisionais deste país, nem todos conseguem arrepiar caminho. É fácil apontar o dedo às instituições governamentais que nos votam ao ostracismo e a importância que elas deviam ter para a regeneração de muitos condenados. Mais fácil ainda, é descarregarmos os sacanas dos nossos delitos na incompetência do sistema, no azar que um gajo teve e coisas assim. Ou até na forma como nascemos e fomos criados, sem ser num berço d’oiro ou com o cu virado p’ra lua.
Na incapacidade de o próprio ser humano estar limitado por razões que a psiquiatria ainda não explica, sabemos que as coisas aí por fora também não estão melhores. Atingiu-se um ponto tal que, lendo e revendo artigos de gente que trata disso, a violência alastra sem controlo e não se está a formar melhores pessoas. Veja-se o que se passa nas escolas. Nas ruas à noite da minha Lisboa que devia ser de divertimento e de lazer. Nos estádios de futebol. Nos bairros onde se amontoam pessoas que não têm nada para fazer.
O velhinho problema étnico e de culturas, a falta de condições para quem Portugal recebe a troco de nada, piora ainda mais as coisas. E não se diga que somos nós, os filantropos que melhor pensam no horário nobre fechados na cela fria, que dificultam as coisas. Os filhos desta rapaziada que aqui pernoita e vive no tempo que estipularam, não nascem com cadastro. Os de quem nos lê e acompanha, também não.
Mas há sempre um quarto à sua espera que a imagem acima pode demonstrar.
11 Comments:
Subscrevo.
O que pode levar uma pessoa à prisão? A má sorte, o desespero, a burrice, o excesso de confiança, a traição...
O que pode levar uma pessoa à violência? A dose certa de stress.
Nuns sítios vem mais à tona, mas somos todos da mesma selva, caro Zé (como este blog, de resto, bem demonstra).
PS:
O comentário anterior não quer ser depreciativo em relação a este blog. Pelo contrário: aí dentro ou cá fora, no que é bom e no que é mau, somos de facto todos farinha do mesmo saco, produto dos vários lados da mesma sociedade.
K ninguém ta livre de ser preso, lá isso é verdade! Nós somos responsáveis por nós mesmos, apesar da educação, da sorte, dos sistemas em k tamos inseridos, das companhias, da loucura, da falta de inteligência. Tudo contribui, mas nd é directamente responsável! Assim como há pessoas k estão presas sem o merecerem, tb ha gente k goza da sua liberdade merecendo-a ainda menos.
é isso mesmo q eu vinha aqui dizer, ana m.
o maior problema nao sao os coitados q foram dentro sem terem feito nada. o maior problema sao os canalhas q ficam ca fora e q continuam a criar nos outros, a ignorancia, raiva, estupidez, stress, etc, que acaba por os levar la dentro.
sei o quanto é difícil ser inocente, mas neste pais, ter dinheiro ajuda muito, pois mesmo k sejamos condenados, ainda levará muitoooooooooooo tempo até ser lida a sentença
Este teu escrito,ZÉ, amargo,traduz, de facto, bastante bem o que se passa.
Nós somos, em grande medida, aquilo que a sociedade quer fazer de nós.
Tocas em vários pontos importantes, dos quais, por dever daquilo que foi atá há bem pouco tempo o meu ofício, destaco um: a violência e a indisciplina nas escolas ou à volta das escolas.
Para dizer que, em grande medida, ela se explica pela desvalorização social que a instituição Escola vai acumulando. Por culpas externas, em grande parte, mas também porque a própria Escola não se soube adaptar à evolução do mundo.
E, depois, as políticas de uma sociedade em que o lucro, o individualismo, o número em vez da pessoa, são os valores essenciais, são a grande mola que impulsiona os chamados "comportamentos desviantes".
E há, claro, algumas explicações que ainda é preciso encontrar, para certo tipo de personalidades que,de tão surpreendentemente aberrantes, até parecem não pertencerem à espécie humana. Mas essas, houve sempre, e são apenas, creio eu, explicáveis em termos de patologia.
Caro, Zé. Cheguei até você atravéz de um amigo, o ator Nelson Pérez.
Aqui no Brasil, as condições dos kárceres são, para dizer o mínimo, desesperadoras.
Espero ler com mais apuro estes escritos para trocarmos idéias. Il faut du courage! Tenez!
Eu só vim cá dar um abraço, pás!
Prisas acrescento mais uma palavra neste texto bem enquadrado nos arredores da Capital e paises e mundos etc. Algo que se chama pobreza de espirito e cegueira menta.
Parabéns por este texto.
Tenho sono !!!!!!
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