Reintegração ou exclusão (2)
“A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Instituto de Reinserção Social, a Direcção Geral dos Serviços Prisionais e a Associação Vale de Acór/Projecto Homem constituem a parceria de desenvolvimento do projecto, que tem por objectivo incrementar acções integradas e inovadoras, rentabilizar recursos comuns, minimizar conflitos institucionais e promover o intercâmbio de boas práticas, dada a experiência comum de intervenção junto de comunidades disfuncionais e de grupos de risco.”
Ler esta nota no site do Projecto pode dar a ideia de estarmos a ser seguidos.
Um jornal gratuito relatava a notícia do semanário Sol, trazendo a público uma “casa de transição” onde vivem desde Novembro cinco ex-reclusos acompanhados por um monitor da Santa Casa com horários e regras que têm que cumprir e respeitar.
Pode acontecer que este modo de reintegração seja a melhor que se pôde arranjar. No entanto, duvido que não baste. E porquê? Porque a nódoa mantêm-se a olho nu nesta sociedade que não perdoa.
Como disse Artur Ribeiro num comentário, é preciso “ACOLHER SEM PRECONCEITO QUEM JÁ PAGOU PELOS SEUS ERROS”. E sendo nós, duma forma geral, os detidos menos perigosos da velha Europa, nunca conseguiremos ultrapassar o apontar do dedo desta mentalidade portuguesa. Isto é verdade, não é filosofia.
Se formos mais além do que o raciocínio lógico nos propõe, a exclusão vive num lugar secreto do subconsciente. Num esconderijo Ali Babá onde os ladrões ultrapassam os quarenta. Pergunte-se sem rodeios se alguém gosta de pretos. De ciganos. De monhés.
Pode acontecer o descalabro se nos interrogar-mos porque será que se detestam os drogados, os pedófilos e afins, e temos maior complacência com as putas e paneleiros que fazem pela vida. Pergunte-se porque desviamos o olhar aos sem-abrigo, aos infectados, aos cegos e pedintes, e se apoiam os vigaristas que estão em lugares seguros e cativos nas esferas do Poder.
Sabemos precocemente que a natureza humana é complicada mas, por muito esforço que se faça na caneta do papel de lei, exclusão existirá sempre. Até mesmo àqueles cinco que, coitados, mesmo depois de reabilitados, quando vão à mercearia comprar batatas, notam no semblante das pessoas com quem se cruzam um sinal de afastamento e reprovação por estarem a viver no meio deles.
E isso é fodido, pá!
4 Comments:
eh pá, ninguém vem cá! Realmente todos devemos à vida, nem sei bem o quê, enquanto o oxigénio e o Sol e o mar são de borla. Portanto faz-se um sorriso compreensivo e pronto...
py
Poderá parecer estranho aos olhos de outros que nos vão lendo, mas sinto-me honrado por ser teu/vosso convidado.
Afinal de contas, é a aproximação (mesmo que virtual) que nos faz conhecer-nos melhor.
Fico grato por isso.
Um abraço a todos.
Se há coisas que nos fazem perceber melhor a "aventura" em que se meteram, é esta tua explicação e abordagem.
Sendo filho da noite, sei o quanto fodido é ser-se marginalizado.
Nem que seja pelas melhores razões.
Temos a malta que somos e isso é ponto assente.
saddam, o dos fados
Ó rapaziada que aqui se juntaram três. Não necessitamos de dizer mais nada porque já vimos que estão sempre cá.
E o mais importante, é que nos entendem.
Um abraço desta malta que foi fazer ginásio. Outro, pelos que optaram por ir ler. Mais um ainda, por aqueles que estão escalados para a faxina.
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