Testemunhos (5)
A minha estória não é nem mais nem menos do que semelhante às dos que vieram aqui parar. Mete-se a pata na poça e zás... somos apanhados e metidos dentro para acalmar. O meu crime não é de sangue mas a expiação a que fui sujeito coagula.
Ao pé de alguns companheiros destas armas até serei um santo que das asneiras efectuadas transforma em solidariedade absoluta, e consigo sentir-me um deles a remar do mesmo lado. Afinal de contas, estamos todos no mesmo barco.
As estórias da maior parte deste banditismo precoce, em alguns casos, confundem-se com o passar dos 80’s. Tempos de mudanças a nível mundial com jovens em constante mutação social que marcaram esses momentos.
E como a criminalidade já vem de longe (igual à fama do Constantino), onde a antropologia pode explicar e a sociologia determina, esta geração que foi considerada rasca, tem aqui a plenitude do epíteto no que diz respeito ao desenvolvimento do seu estatuto de recluso.
Tal como a História deste Portugal, grande e pequenino em épocas marcada, também nós passámos por glórias efémeras e calamidades. Há até quem acredite que nascemos (os delinquentes) com o destino marcado, como canta o fado que um amigo nos dedicou, e como grande parte dos portugueses tão bem se encaixam nele. Mas podemos aproveitar o que de melhor pode advir das situações que nos ofertam, como já referiu o João Almerindo num post abaixo.
É tudo uma questão de escolha. De atitude, acrescentaria.
Quando mereci as honras e os convénios dos justiceiros, pensei que a minha vida tinha chegado ao fim. Um percurso breve que a sorte madrasta delimitou. Enganei-me.
Nos oito anos que apanhei (serve de resposta ao Rui Gustavo, do Expresso), aprendi a lidar com a pressão dos que não aguentam esta coisa de estar preso. Uma claustrofobia diferenciada que nos pode encostar à parede e nos aproxima do juízo final que, ninguém no seu perfeito entendimento da questão, pode colocar de parte.
No entanto, tendo a oportunidade de muitos de nós nos regenerarmos, há coisas que nunca mais conseguimos recuperar por muitas empatias que possamos ter. A realidade mostra-nos tudo isso ao começar pela reintegração.
Se não disser quem fui, desenrasco-me. Se disser quem sou, estarei no mesmo patamar como qualquer um que nos lê e, provavelmente, ninguém irá questionar de onde vim.
Digo eu.
Acompanhamento de Teresa Salgueiro.
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1 Comments:
É bem verdade, Zé.
E quem tiver um pouco de atenção verifica que não é só aos que necessitam de reintegração que as oportunidades surgem à mão-beijada.
Agarra com as duas mãos as tentativas e anda cantar o Fado.
Nem que seja o da desgraçadinha.
Os que estão cá fora podem ser de ajuda e dar uma guitarrada não custa nada.
Digo eu, também.
sadamm, o dos fados
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