O cabrão do Código Penal
Foto Público
“Quem esteja actualmente a cumprir prisão preventiva - por um crime cuja pena máxima se situe entre os três e os cinco anos - será libertado a partir de 15 de Setembro.” (DN)
Como é habitual, um gajo aqui levanta-se cedo. Mas hoje, particularmente, levantei-me com uma disposição incrível face à entrada em vigor do Novo Código Penal.
Estranhei já a presença, ou a falta dela, de três tipos com barba de três dias no pequeno-almoço desta manhã onde era habitual cruzar-me; disseram-me que ao abrigo da nova legislação do cabrão do Código tinham saído no sábado à noite. Fiquei em pulgas. E porquê? Porque o sacana do legislador escolheu uma data filha-da-puta para a abençoada lei ser homologada. É que o meu advogado está de férias (também tem direito a um descanso merecido, claro) e só hoje é que os meus cordelinhos exteriores lhe fizeram saber “quando é que eu saio?”.
Como tenho pendente alguns recursos no meu processo com efeitos retroactivos, estou perfeitamente aplicável se não “houver fortes indícios de crime doloso punível com pena superior a cinco anos”, como diz a nova lei.
Mas o estatuto social que tenho vincado na educação que trouxe lá de fora, adicionado à experiência prisional que aprendi cá dentro, qualquer coisa me diz que as coisas não estão bem feitas. E nessas merdas, sou um mariconço do caralho porque duvido que estes gajos voltem cedo demais ao convívio do nosso Núcleo Duro. Ou por deficiência de trajecto, ou por anomalias de projectos aplicáveis. E se optarmos por uma análise mais elaborada dos tipos que ganham mil euros num programa de televisão para dar palpites, sabemos que a maior parte da malta está a esfregar as mãos de contentamento apenas por conveniência do sistema.
E provavelmente, o ministro também não dá por isso.
Mas que acompanhamento vão ter os tipos que já estão aqui há dois anos e tal que são lançados à rua pela directriz governamental saída e aprovada pelo Diário da República e Presidência incluída? Alguns deles sem família estável. Muitos deles “agarrados”. Outros sem final contabilizado quanto a perspectivas de trabalho. De reintegração adequada. De aceitação. Sem falar nos gajos que violaram crianças. Pedófilos. Matadores incorrigíveis. Traficantes por excelência que encurtam a vida de muitos filhos da malta que sabemos pelos jornais. Desculpem lá, mas não era assim que eu fazia as coisas.
Nestes tempos que correm, qualquer doença do foro comportamental tem cura. Pode é levar mais algum tempo dos quinze dias que o MP achou curto para a aprovação.
A lei que impera no Palacete é “cada um por si”. Lá fora, vou adoptar a do Benfica: -“et pluribus unum” – e tentar esquecer que passei por cá. O meu 'ad vocatus', com a ajuda do Santo Ivo, há-de me ajudar a sair desta, já que a legislação mo permite. Depois é só comprar um computador que o eng.º Sócrates e a TMN de mãos dadas andam a proporcionar a custo apetecível, para me manter no activo e em contacto. E talvez uma pistola. Preferencialmente portáteis.
Bye, bye!
15 Comments:
Assim e que e jose prisas tu sabes bem o que dizes, e o que escreves nao se compreende nada desse nosso portugal menos penoso os crimes de sangue e violacoes do que os outros.por isso muitops detidos como tu te tratam com respeito e verdadeira nobresa tu para eles es um autentico professor e catedratico. forca amigo ja te falta poucos anos
ahahahahahahha
Zé, não percebi tudo mas desejo boa sorte, incluindo com a pistola :-),
deixo aqui uma coisa que pode dar jeito a não-sei-quem, não-sei-onde..., aproveitando a cara simpática e a gargalhada do Dalai Lama:
Shambhala
A chave do espírito guerreiro – e o primeiro princípio da visão de Shambhala – é não termos medo de ser quem somos. Em última instância, essa é a definição de coragem: não ter medo de si mesmo.
(...)
Damos início à prática da meditação sentando-nos no chão com as pernas cruzadas.
(...)
Assim na prática da meditação, sentando-nos com uma boa postura ficamos atentos è respiração. Ao respirar estamos inteiramente ali, verdadeiramente ali. Com a expiração nós saímos de nós mesmos, nosso fôlego se dissolve e logo em seguida a inspiração naturalmente acontece.
(...)
Shambhala, Chögyam Trungpa, Cultrix, São Paulo, 1984
Podes acreditar que, nestes dias, ao ouvir as novidades sobre o novo Código, tenho pensado em ti e na possibilidade de saires.
E estava com curiosidade em conhecer o teu ponto de vista, pois tens dados que nós não temos.
Pelo que dizes, confirmo o que tenho pensado: são grandes as confusões que as precipitações que começam a ser o timbre deste governo, vão espalhando.
Espero, isso sim, que possamos continuar estes diálogos, mas já contigo noutra situação.
Mas, olha, quanto aos portáteis, não te iludas:feitas as contas todas, aquilo fica carote...
... estava igualmente curiosa relativamente à tua interpretação. claro que gostei de te ler!
Espero que a tua estrutura de gente chamada pessoa te ajude a enfrentar o dia claro e a sobreviver no meio da outra selva - a do exterior.
... os portáteis de que falas são também lentos, ao que sei. E aquela fidelização à tmn pode não ser a melhor coisa da vida.
A pistola é que poderá ser demasiado rápida, tu vê lá!
Já me tinha lembrado de ti quando ainda no hospital ouvi a noticia da aplicação do novo codigo penal.
Espero que tudo corra como desejas pois tenho a certeza que te saberás integrar.
O portátil é fácil de arranjar nem que seja num ciber-café.
Espero noticias breves.
Um abraço e votos de que tudo te corra bem
Ola,
é possivel fazeres um post pequenino a divulgar o lançamento em lisboa do meu livro? podes usar a capa.
no meu site esta a info:
www.tiagonene.pt.vu
conto ctg lá tambem, claro:)
vai estar la algumas pessoas conhecidas. Aparece!
Pelos vistos, Zé, os gajos que saiem ao abrigo da nova lei, na volta estão com os costados aí batidos outra vez.
Mas sei que há excepções...
(lembras-te do convite que te fiz sobre trabalho? A porta continua aberta. Mas a pistola deixa-a lá fora. Traz apenas o computador.)
saddam, o dos fados
ah pois, com a meditação "saímos de nós mesmos, nosso fôlego se dissolve e logo em seguida a inspiração naturalmente acontece"
O pior é quando chega a hora de dar ao dente. Agora percebo porque é que não há budistas gorduchos.
Não têm pistola!, nem daquelas de imitação,,, (as que eu aconselho vivamente ao Zé Prisas)
Coragem e alguma paciência, meu amigo.
Olhe que isto cá fora, como sabe, também não anda bem, por isso é melhor continuarmos nas virtualidades da internet e depois logo se vê.
Pistola?
Só a aconselho a quem gostar da falta de liberdade.
Bom-fim-de-semana, dentro do que for possível
Já dei voltas e mais voltas ao teu blog... virei-o do direito e do avesso... ficção ou realidade a verdade é que este deve ser um dos melhores blogs por onde já passei.
Existe em cada post uma análise social soberba, descrita de uma forma peculiar num misto de critica, humor, discernimento e verdade.
Ó Zé, por onde andas?
Reitero a pergunta: "Ó Zé, por onde andas?"
e eu idem: "Ó Zé, por onde andas?"
Já venho!
Estou só a ultimar os preparativos para uma saída em ombros (rs).
De qualquer forma, agradecemos a vossa preocupação.
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