segunda-feira, julho 31, 2006

Os assassinos somos nós



À primeira vista, parecendo arredados do que se passa extra-muros, estamos a par de tudo o que ao mundo diz respeito.
Como se deve calcular, nem todos os que por cá pernoitam obrigatoriamente se dão a essa obrigatoriedade (olha que linda ressonância). Mesmo assim, não tendo os mesmos direitos e obrigações sociais dos simples membros da sociedade de que fazem parte dez milhões e tal de portugueses, preocupamo-nos com estas merdas em que os americanos são exímios.
E no agudizar da situação global, chegámos à conclusão que a democracia que apregoam não é tão fiável assim. Primeiro, porque lhe trocaram a essência do significado. Segundo, e mais grave ainda, ninguém respeita o significado que ela tem.

“Matem-se uns aos outros” é um dos emblemas por aqui dos condenados com mais anos que são a minha companhia. “Ninguém consegue dar um tiro nos cornos naquele cabrão?” (Bush) vem logo a seguir. No entanto, permitam discordar dos prosaicos e revolucionários palavrões, guerra é guerra, e quando se vai p’ra ela é para matar ou morrer. A prová-lo está as condenações a que nós fomos sujeitos por arriscar o garantir uma vida facilitada ao roubar dos outros aquilo que não tínhamos. A Israel aconteceu a mesma coisa nos despojos da II Grande Guerra aquando da distribuição dos ditos.

Uma coisa gostaria de subscrever: o código de honra que todos os militares deviam ter.
Outra subestimo: a Europa estar subjugada ao domínio dos novos ditadores sem nada poder fazer.
É que um cessar-fogo não vai resolver coisíssima nenhuma e erros de cálculo que matem civis (sobretudo crianças) nunca dará credibilidade às reivindicações históricas a qualquer das partes.
Porque os assassinos continuamos a ser nós ao permitir que tudo isto aconteça no vulgarizar destas coisas bastante graves!

Posso não resolver nada mas fiz por esmerar-me na escrita.
Boa início de semana!

sexta-feira, julho 28, 2006

Flagrante delito


Foto Miguel Lacerda

Vão vender a nossa casa!

"O Ministério da Justiça (MJ) vai celebrar um protocolo com o Ministério das Finanças de modo a usufruir dos resultados financeiros do património alienado. Neste, além das casas dos juízes, há várias prisões urbanas de alto valor imobiliário - como, por exemplo, as de Coimbra ou de Lisboa. Para já, apenas está decidido o encerramento de três: Monção, Felgueiras e Bracannes, em Setúbal. Outras 19 se seguirão, nomeadamente em Lisboa, Coimbra, Pinheiro da Cruz, e o hospital-prisão de Caxias. O MJ pretende, em substituição, erigir estabelecimentos fora do tecido urbano, aumentando a capacidade de 12 mil para 14 500 lugares."
Fonte DN

Tudo porque "três em cada quatro cadeias portuguesas estão sobrelotadas e cinco delas com mais do dobro da sua capacidade, segundo dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP)", citados pela Agência Lusa.

Se possuísse o produto das minhas (des)aventuras, garantidamente um dos potenciais compradores era eu.

Entretanto, no primeiro de Agosto, toma posse a nova Direcção dos Serviços Prisionais.

Por não sabermos exactamente o que vai ser o futuro, apetecia-me fazer o mesmo que a Maria João Pires. Só cá por coisas.


Um dos leitores deste blogue descobriu, finalmente, a cabala contra Fidel Castro e a tentativa de assassinato. Em flagrante delito! (é bem capaz de demorar um bocado, mas vale a pena. Não tem vírus. Palavra de honra.)


segunda-feira, julho 24, 2006

O mundo está perigoso



"Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos."
M. Luther King

Para esta população residencial intra-muros no Estabelecimento Prisional de Lisboa, soletrar Hezbollah e/ou Condoleezza Rice de seguida pode provocar artrites graves ou estupefacção aguda.

Falar de Ehud Olmert ou de Mahmmud Abbas a alguns deles é como se estivesse a anunciar os novos reforços do Benfica. Porém, a maior parte destes gajos têm razão. Ao contrário dos que fogem da zona crítica da guerra porque foram apanhados, estes tipos que foram apanhados por outras razões estão seguros.

Daí, a minha preocupação sobre a situação no Líbano ser apenas uma forma de me livrar de ir descascar batatas ou distribuir o correio.
Sabe-se que a coisa não é tão linear assim, mas é o que há cá.

É que em vez do lançamento de Katioucha's ou Arrow's que os beligerantes teimam em queimar, nós damos mais atenção a estas coisas.



Zuleyka Rivera Mendoza, 18 anos. Puerto Rico. Miss Universo 2006.
Há lá coisa melhor... e plagiando a forma de acabar um post à Old Man - um gajo que escreve terrivelmente bem - um som dos Pixies, totalmente dedicado à Ana.

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sábado, julho 22, 2006

A ocasião faz o ladrão



Baseado num comentário do Xatoo, agradou-me a ideia simpática de parecer demasiado bonzinho para estar dentro.
Foi essa minha faceta, realmente, com que levei alguns otários a serem cúmplices numa vida que eu achava ter direito, subtraindo do que eles tinham a mais algumas coisas para meu próprio benefício. Tive azar e de nada me valeu tal retrato.

De qualquer forma, em termos sociais costuma dizer-se que quem vê caras não vê corações e quando iniciei esta aventura de espairecer pela escrita o que nunca conseguirei fazer aos fantasmas que me perseguem, nunca me vi como sanguinário ou homem sem escrúpulos, é verdade. No entanto, fui condenado por delito contra bens e pessoas e cá estarei mais um tempinho.

Tomara que quando sair encontre a oportunidade e a confiança de me refazer. Literalmente e em todos os sentidos.

Bom fim-de-semana!

segunda-feira, julho 17, 2006

Dia bom!



Não queria dissertar sobre o assunto para não me armar em cagão, mas já que a notícia vem nos jornais e nas agências noticiosas, confirmo que há muito bom malandro disposto a aprender sempre.

Para além disso, foi deferido o nosso pedido de 26 de Junho e postado a 27. Por isso… aí vamos nós dar uma palavrinha de quando em vez aos compinchas destas andanças.
Naturalmente será ao Eduardo, à Thita e ao , por terem sido os primeiros a descobrirem-nos e a divulgar que também há vida entre estes muros e que o caminho faz-se caminhando.

sábado, julho 15, 2006

Suicídio (1)



Sabemos todos quão complicado é falar sobre o suicídio. Quanto mais no dos presos de delito comum. Primeiro por respeito à memória deles. Segundo, o não avivar a dor (ou alívio) das famílias é mais uma. No entanto, e como se deve calcular, um gajo não se mata só por matar. Lá terá as suas razões. Mas até aqui fui eu a escrevinhar.

Agora vamos aos factos.
Parecendo idiota e irrelevante, é mais fácil entrar no mundo do crime do que numa prisão. Enquanto lá fora vigora a lei do mais esperto e do mais ágil e com mais sorte, aqui a bola bate na trave. Nem todos se habituam facilmente à disciplina presidiária, nem à companhia de autores de crimes que eles pensavam nem existir.

Num estudo realizado há tempos, o suicídio era considerada a segunda causa de morte nas prisões portuguesas. Por outro lado, Carlos Alberto Poiares (especialista em psicologia criminal) disse um dia, tal como o Hilário cantava, que: «Não nos podemos esquecer que não é só a liberdade que é retirada, mas também outros bens essenciais, como a vida afectiva e sexual. Adiantando ainda que:«o Plano Individual de Readaptação, presente na lei há mais de 20 anos, nunca foi posto em prática. Em Portugal as coisas não avançam. Ou por falta de dinheiro, ou por falta de vontade política. Neste caso é pelas duas coisas».

Virando o bico ao prego, António Pedro Dores (sociólogo no ISCTE), escreveu o seguinte sobre “o mundo da mentira” :
“Apoquentados com o que sabem passar-se nas prisões, talvez à procura de encontrar formas de evitar desmandos a partir dos seus postos de responsabilidade, deputados, ministros, chefes partidários, titulares de instituições várias, visitam prisões. São alturas em que quem está lá dentro esconde como se vive e mostra o melhor que tem, como mandam as regras da hospitalidade e do bom senso. Em particular quando alguém de estatuto social mais elevado, por alguns instantes, se digna preocupar com a sorte dos mais desfavorecidos. É isto tão verdade para os guardas e outros responsáveis prisionais, quanto o é para os próprios presos.”

Depois existem ainda a caça às bruxas, as rixas, os grupos rivais, o racismo, os negócios, etc..
Um tipo que não esteja fortalecido psicologicamente para lidar com tudo isto, só tem duas coisas a fazer: ou pira-se até ser apanhado novamente, ou pira-se de uma vez por todas.

Há quem defenda que nestes casos, o melhor é estar-se morto.

(continua…)

quarta-feira, julho 12, 2006

Humor do dia



E esta coisa, mesmo vindo do Sardaniscas (qualquerdiadou.blospot.com), é food-i-do (food-i-do.blogspot.com) onde a fui buscar.

Esta outra parece-me entre a eutanásia ou mesmo-a-brincar-pode-ser-levado-na-real.

Agora mais a sério


Parece que ninguém segura estes gajos!

Num dos próximos posts (é assim que se diz?) vamos tentar abordar o tema do suicídio nas cadeias. Qualquer contribuição dos ilustres leitores deste blogue é bem-vinda. (osolaosquadradinhos@gmail.com)

segunda-feira, julho 10, 2006

A vingança do chinês


(foto CNN)

"Quem com ferros mata, com ferros morre!"

Para quem possa andar a dormir na forma, o mundo do crime é mais alargado do que se possa julgar.
Todos nós sabemos da conivência que tivemos com gente com poder aquando dos crimes praticados. Por motivos óbvios, essas pessoas nunca serão reveladas por ninguém. Mas este pequeno exemplo da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) ao atribuir o prémio Bola de Ouro ao franco-argelino (pela votação dos jornalistas que cobriram o evento) faz-me pensar se a decisão do juiz que me condenou não terá sido imoral.
Mais a mais, sabendo que os novos Campeões do Mundo passam por um processo de corrupção e batota no seu próprio campeonato.

É que, ao contrário do que muita boa gente possa pensar, e não me venham cá com moralidades, às vezes o crime compensa.
Mas não só no futebol...

sexta-feira, julho 07, 2006

Os vencidos da vida

Da minha cela posso ver o mar, que tanto Sofia amou. Sinto as pessoas que fazem parte do acordar de Lisboa; padeiros, jornaleiros e varinas. Gente que acode os sem-abrigo. Homens e mulheres que fazem da vida um limpa e vende: ciganos, pretas, chineses, indianos, gente do leste.
São os actuais “Vencidos da vida”!

Falar sobre Eça, Conde de Ficalho ou Abel Acácio de Almeida Botelho, é indiferente.
As influências são o que são, e os portugueses não podem fugir ao fado que os tramou.
Parafraseando Antero de Quental,
- Sabe, vou morar para um local longe de vizinhança. Com os ratoneiros que andam por aí, é bom estar prevenido.

Don Giovanni



«A música toca mais fundo na alma humana»

Platão


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Melhor que lamentar a morte de mais um guarda prisional em S. Paulo (e vão seis em menos de três tempos) é a "Noite de Fados" que um companheiro destas andanças nos proporcionou. (link)
Obrigado!

quinta-feira, julho 06, 2006

Sur(presos)?

«Aprendi que um homem só tem o direito de olhar para o outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.»

Gabriel Garcia Marquez


À semelhança da D. Carla Hilária Quevedo (bomba-inteligente.blogspot.com/), este blogue encontra-se assim:

(imagem Público)

quarta-feira, julho 05, 2006

O Portugal-França

Mais difícil que enfrentar um juiz que pode decidir os próximos anos da vida de cada um de nós, é a angústia que se apodera deste presídio neste momento.
Hoje calhou-me lavar a loiça e estar de faxina ao refeitório, mas já todos inventámos modos e afazeres de passar as horas que faltam. Isto não é normal.

Com a complacência dos guardas prisionais, e da Directoria, alterámos alguns hábitos dos dias pardos que levamos. Demos por nós a descobrir Sartre, e o existencialismo, na tentativa de identificar a estratégia de Raymond Domenech. Queremos ajudar a mudar a História e há quem reze para que possamos ouvir o som estridente e mensageiro de boas-novas vindo do Marquês, nosso vizinho.

O “Dr.”, psicólogo de serviço, assegurou-nos que estes factores podem ser de ajuda extra para a aproximação à realidade que se vive no exterior. Mas não sei porquê, só me apetece fugir.
Para onde é que não sei.

Galo por galo...



Hoje acordei com uma sensação esquisita e, depois do pequeno-almoço, tentei ler o Le Monde na tentativa de recuperar o francês da minha escolaridade antiga à procura do que pudessem dizer os franceses sobre o jogo de logo à noite.
Estou mais velho que o Zidane e as torradas iam saindo-me pela boca.
Chato mesmo, é que continuo com a esquisita sensação de inferioridade.

Vou ler os outros. Pode ser que passe.

segunda-feira, julho 03, 2006

O futebol (também) pode matar

Em Cap d'Ail, França, um gajo que estava farto do barulho que portugueses faziam nas celebrações da passagem às meias-finais desatou aos tiros à malta. Acabou abatido, o parvalhão.
Em Inglaterra, está a formar-se uma campanha contra Cristiano Ronaldo (The Guardian), e não sei se o puto maravilha vai ter condições para continuar no Manchester United.
A mais velha Aliança está periclitante pelo mau perder daqueles arrogantes e não tardará, segue-se Le Penn e toda a imprensa gaulesa a dizer da justiça deles.

Parecendo ridículo, estamos a mexer com a Europa pela única porta onde nos podemos afirmar. Quando digo “nos”, é notório que também quero fazer parte dessa pequena revolução utilizando a única arma que (ainda) tenho ao meu dispor: o blogue.
E agora, com um novo homem à frente do MNE, penso que chegou a altura de deixar de ser os “pequeninos”. O país de segunda escolha. A voz gaga e pobre e pedinchona que se arrasta pelos corredores poderosos de Bruxelas. Chega de exclusão!
Há que tomar uma posição de força para nos fazer respeitar. Não só pela defesa do bom-nome do país, mas por uma questão de honra que nos foi legada e está transcrita, não na Constituição, mas nas palavras de Henrique Lopes de Mendonça.

A ideia deste espaço nasceu precisamente daí. Não sermos vistos como gente de olhar frio e assassino. Gente de segunda. Proscritos desde a medula até ao âmago do nosso corpo.
Por isso, preocupa-me o silêncio de Gilberto. De José Carvalho de Sousa e de todos quantos se podem fazer ouvir. É que o futebol também pode matar a esperança e o futuro. Primos directos da independência que Afonso nos deixou.

Dito isto por um recluso, até parece que sou o salvador da pátria ou que não há mais ninguém com tomates para os mandar para um sítio que eu cá sei. Nada disso, e que se lixem os brandos costumes.
Pela minha parte, vou aplicar a Lei de Talião.

domingo, julho 02, 2006

A Família sagrada



Não por acaso, admito que qualquer um de nós, com os costados aqui impostos, não teve uma infância feliz, pronto.
As posses familiares de cada um (e já falei disso) não dava sequer para ser doutor, quanto mais engenheiro. No entanto, e salvaguardando a boa vontade que cada pai e mãe tiveram para criar o(s) filho(s) ou filha(s), ressalva-se sempre como desculpa algumas orientações nas companhias que tivemos por perto. É a pura realidade.
E quem estiver a ler isto, e estiver por dentro do assunto, sabe muito bem do que estou a falar.

Outros, entretanto, podem perguntar-se qual o propósito que este gajo quer demonstrar?
É simples. Basta ver como um grupo de gaiatos bon vivant, de carteira recheada e inúmeras solicitações sociais, conseguem demonstrar, há uns anos a esta parte, como funciona uma família a sério. Só tem uma resposta: união!

A gente olha p’ra esta rapaziada à primeira, e não dá nada por ela.
Uns com cabelos compridos ao vento (como se usava no meu tempo). Outros com bandoletes, brincos, visuais que rentabilizam marcas, contratos chorudos e o diabo a sete. Mas funciona.
Isto tudo só pode ter um nome; Luiz Felipe Scolari.

Se a scolarização tivesse o mesmo efeito na sociedade…