Reintegração ou exclusão? (1)
Foto Saviduria Vedica
Baseado na curiosidade de uma leitora – enviada por e-mail – hoje não me apetecia nada descrever quem somos e o que esperamos desta sociedade que nos julgou e condenou. Parecendo quase um filme americano, onde o litígio é sempre Estado versus Fulano de Tal, no meu caso posso tentar um simulacro: estado português versus Zé “Prisas” Amaral.
(Algures nos arquivos deste blogue, podem encontrar-se as razões da minha penitência. Por isso, vou saltar a merda da repetição e ir direito ao assunto.)
Segundo percebi pelo teor da mensagem, a preocupação é interessante: o que fazemos nós depois de nos pirar-mos daqui?
Recorrendo a um sketch do Ricardo Araújo Pereira, apenas posso acrescentar o seguinte; quando o Programa de reinserção social não cumpre o que foi elaborado em conjunto com o ministério da justiça e outras entidades que se responsabilizam pelo futuro dos reclusos, na maior parte dos casos, nada! Está escrito, mas não se pode fazer.
Costumo dizer por brincadeira que neste país, além das nossas, não existem ideias. E os que as têm não param cá muito tempo. Sei muito bem que é presunção, mas quando constato que ninguém tem soluções, e muito menos dinheiro, para resolver os problemas (e não são só os nossos) que qualquer nação tem, permite-me alguma margem de especulação. O nosso Director sabe disto e o ministro, presumo, também devia saber. Vejamos:
Direitos humanos, reintegração, assistência social, emprego, saúde, e outros blá-blás, é tudo treta. Quando se sai, a grande maioria torna-se mais um fardo para a família. Quando se a tem...
Em questões de sobrevivência e afirmação, um emprego é sempre um útil recurso para quem se quer limpar de vez. Mas quem é que emprega gajos cadastrados e com anos de presídio no seu currículo?
Na área do programa de assistência social a coisa ainda é pior. As dificuldades de integração surgem em catadupa, e mesmo que um gajo vá p’ra lá às seis da matina tentar arranjar nem que seja uma esperança de que no outro dia será melhor, é mentira. Isto sem falar dos que precisam de acompanhamento médico, financeiro e o diabo a sete.
Pessoalmente, não os posso censurar. Afinal de contas, fomos nós que descarrilámos e a malta que desconta está fartinha de dar sempre para o mesmo peditório.
Acho que talvez fizesse falta o Ministério das Correcções. Mas dirigido apenas, e só, por correccionais e com dinheiros que não fossem do erário público. Porquê? Porque o branqueamento de capitais sempre esteve na ordem do dia.
E nós não queremos fugir à filosofia de Estado.