"Sei que pareço um ladrão... /mas há muitos que eu conheço /que, sem parecer o que são, /são aquilo que eu pareço.
António Aleixo
Por muito que se possa pensar que somos burros, ainda assim, temos consciência de que não só está preso quem merece. Provável será julgar que o que vai a seguir é uma raiva incontida contra quem está aí por fora. Nada disso. Não é essa a intenção ou revolta, porque ainda estamos muito apegados à fórmula do
desenrascanço nacional e, por vezes, até admiramos os
grandes golpes e a inteligência elaborada com que se fazem
grandes trabalhos.
Tendo a facilidade que nos foi dada nesta liberdade virtual, é fácil constatar crimes impunes que se cometem às claras e que ninguém parece poder evitar e/ou condenar. Mesmo que os não possamos comentar por razões de segurança. Ou nem sequer poder escrever sobre painéis visíveis como os processos Casa Pia, Apito Dourado, Fundos, fungos, Fundações e o diabo a sete. Muito menos a
estes outros que, ou muito me engano, ou vai dar merda. Mas trato é trato e a gente cumpre.
Só que por exemplo, de cada gajo da Ala F que deu um tiro nos cornos num tipo que estava na hora errada e no lugar errado, existem cem que estão no lugar e sítio certos, e fazem muito pior. Por cada companheiro economista da Ala C, que desfalcou uns milhares valentes em seu próprio benefício, estarão mil a gozar com o pagode que ainda acredita no Pai Natal. Por cada corrupto, assaltante, violador, traficante, chulo, pedófilo ou prostituta, que venham parar aos Estabelecimentos Prisionais deste país pelas participações condenáveis em que se meteram, o observatório exterior pode provar que o número logístico dos que nunca são apanhados, ultrapassam a população reclusa que constam dos números oficias do MJ. E já nem falo de instituições cívicas, estatais, não-governamentais, e tantos outros sectores contaminados de suspeitas.
O mundo visto aqui de dentro pode revoltar-nos. O estar independente (
leia-se fechados) pode fazer com que nos sintamos injustiçados nas provas de delito que apresentaram a muitos de nós mas que, alegadamente em semelhantes circunstâncias, insuficientes e complacentes no julgamento de outros que se julgam imputáveis. Mas o mundo é mesmo assim. Quando se assume um comportamento de risco, uns pagam e outros ficam a dever.