Saídas precárias
Custóias
Tal como os grandes semanários, os grandes escritórios, as grandes fábricas, também nas prisões a sexta-feira é um dia em que se mistura angústia e ansiedade. Nem sempre, é certo, pelos melhores motivos ou causas, mas é o tempo de ver como estão as coisas, fazer as malas e ultimar preparativos.
No entanto, estas saídas precárias que os menos penalizados e mais bem-comportados são quem mais auferem, existe a diferença de vermos o fim-de-semana com outros olhos.
De modo algum nos arrebata a sensação de que se vai para casa para descanso ou de fazer planos de viagens ou passeios. Como que escondido atrás de um biombo, está uma sensação esquisita de perda, de despedida, daquela vida a que se está habituado. Das amizades que criaram raízes na malfadada sorte que nos calhou e do que já alguns consideram a sua própria casa.
Se num dia acontecem várias coisas, numa semana, que quase nem damos por ela passar, podem acontecer situações imprevisíveis que transtornam qualquer um.
Saber que um gajo nosso amigo levou com um balázio nos cornos numa rixa de bairro, não deixa ninguém indiferente.
Constatar que os pais se zangaram outra vez e ouve móveis partidos, também não me parece que sejam as melhores boas-vindas. Ou que a irmã foi assaltada (veja-se só o paradoxo). Ou a avó não ter dinheiro para os remédios. Ou que os miúdos não foram à escola e andam a iniciar-se naquilo que dá mais dinheiro.
Não sei de muitas soluções para alinhavar o comportamento humano desta gente, mas noto no olhar deles a expressão de que muitos gostariam de ficar. Talvez porque nunca saibam o que vão encontrar lá fora.
O nosso fim-de-semana, por vezes, é uma merda. É que nem o Benfica nos alegra.
Tenham vós, os que por aqui vão passando, melhor sorte. Até segunda.